Primeiro Beijo.

Wednesday, October 29
Acho que meu estado "doente" me fez entrar em lembranças, de quando eu era mais nova e mais ingênua, conseguindo crer nesta coisa do príncipe encantado.
Eu tinha 17 anos. Minha adolescência era calma, nunca fui daquelas que saíam, enchiam a cara, passavam a noite em claro. Minha diversão era ficar na casa de amigas, conversando; teatro; praia... Sem garotos. Não queria ficar com ninguém, era contra, meu beijo tinha que ser para aquele que eu amasse. E eu amei muitos, todos platônicos. Ainda por cima sempre fui gordinha, isso dificulatava um pouco mais as coisas...
Até que surgiu a internet. Para mim foi um mundo novo, mIRC, pessoas, meninos conversando direto comigo. Passava noites em claro. Recebia ligações da Paraíba, daqui mesmo de Recife, minha mãe, coitada, não entendia nada, a menina que até então era calma ficava no computador e no telefone, falando com meninos que ela nunca tinha ouvido falar.
Então ele surgiu. De Curitiba. Falávamos todos os dias. Ele me ligava, eu ligava para ele.  Tínhamos tudo em comum. Eu pensava nele o dia todo. Combinamos que ele viria para cá me ver em janeiro (estávamos em outubro/96). Até que um dia, depois de uma discussão (sim, a gente já discutia) eu me enchi. Disse que não aguentava mais aquilo, que namoro a distância não existia.
Duas horas depois ele me ligou. Havia comprado a passagem, em uma semana estaria aqui em Recife, não queria me perder. Imagina como fiquei?
Mas havia um problema... Eu queria passar um tempo sozinha com ele, mas como fazer isso, eu, uma menina de 17 anos, que nunca tinha tido nem um namorado? Minha mãe nunca ia deixar eu dormir no hotel que ele se hospedaria. Então tracei um grande plano...
Ele chegaria em um sábado. No domingo era aniversário do meu avô, que morava no interior, então minha mãe dormiria lá de sábado para o domingo. Com a ajuda da minha sempre fiel prima, bolamos um jeito... Eu disse que tinha que estudar para o vestibular na casa de uma amiga (devidamente avisada) e que não dormiria em casa de sábado para domingo, indo para casa do meu avô domingo com esta prima em questão e o então namorado dela. Para minha mãe ele chegaria domingo e me telefonaria quando estivesse no hotel, então eu iria lá encontrá-lo. Ela me conhecia pouco se achava mesmo que eu iria esperar tanto.
Sábado saí de casa para ir para "a casa da minha amiga", na verdade, o aeroporto. Aeroporto este que eu nunca tinha ido de ônibus. Sozinha, adivinhando o caminho pelos ônibus da cidade. Eu lembro que até dinheiro minha pobre mãe me deu, para que a filhinha pegasse os ônibus direitinho...
No aeroporto eu era só nervosismo. Ia encontrar um cara que eu nunca tinha visto na vida, como assim? Mas eu o amava. Tinha certeza, no auge dos meus 16 anos, que ele era meu príncipe encantado, que iríamos casar e ter muitos filhos.
Lembro que quando ele saiu do avião eu o reconheci, mesmo só tendo-o visto por uma foto antiga. Quando ele saiu do portão de embarque ele me abraçou bem forte e me beijou. Minhas pernas tremiam, tudo que eu imaginava que poderia ter sido meu primeiro beijo se dissolvia ali, pois era muito melhor! Depois de me beijar, ele me olhou nos olhos e disse:
-"Seus olhos  são verdes mesmo!"
Nunca ninguém acredita.
Ele passou uma semana em Recife, a semana mais romântica da minha vida. E foi por ele que abandonei tudo e me mudei para Curitiba. Mas isso é uma outra estória, que vou contar em outra ocasião...