Quando eu morri por amor...

Saturday, November 8
Já contei aqui que o primeiro amor da minha vida foi a razão para que eu me mudasse de Recife para Curitiba com pouco mais de 18 anos. Larguei família, amigos, casa, carro, faculdade e fui atrás do que eu achava ser meu príncipe encantado.
Lógico que o conto de fadas estava só na minha cabeça de adolescente. A realidade é que nossa estória estava ruindo, apesar de ainda ter durado pouco mais de um ano e meio depois que eu cheguei lá.
Existia uma terceira pessoa nesta estória,que surgiu enquanto ainda estávamos separados. Eles viraram amigos e ele balançou. Por meses vivi com medo do pior acontecer e claro que aconteceu.
Era véspera de dia das mães, ele tinha comprado seu primeiro carro na semana anterior. Eu morava em um pensionato e ele me convidara para almoçar na casa dele naquele sábado. Sua família interia estava lá: a mãe e o pai que moravam no interior de SP, a irmã e o marido que moravam no interior do Paraná, e mais tarde chegaria o irmão mais velho e a esposa, para todos juntos comemorarem o dia das mães no dia seguinte. Faziam 4 meses que eu estava em Curitiba.
Então ele saiu de manhã dizendo que iria comprar pneus novos para o carro, que voltaria para o almoço. Não tinha celular. E simplesmente não apareceu no almoço. E o tempo foi passando... e nada dele... A família começou a se preocupar, cogitaram até polícia, porque ele não era dado a estas coisas. Mas eu sabia. De alguma forma que eu até hoje não entendo, eu sabia que ele estava com ela, a menina que ele tinha se encantado. E que estava me traindo.
Eu estava certa. Ele chegou 11 da noite. Eu olhei pra ele e perguntei: "Você estava com ela, não estava?"
Ele só concordou com a cabeça.
A partir daí meu mundo ruiu de vez. Ele era meu príncipe encantado, para mim a gente só amava uma vez na vida, como assim ele tinha me traído? Como assim tudo estava acabando?
Ele me levou de volta ao pensionato, eu só chorava. Lembro de entrar no meu quarto, pegar todos os remédios que eu tinha e começar a  tomá-los, todos de uma vez, de aspirinas a relaxantes... Na minha cabeça doentia aconteceria como nas novelas: eu tomaria e simplesmente desmaiaria.
Com certeza não aconteceu assim. eu fiquei bem acordada pensando no que havia Feito. Aí bateu o medo, medo de ter uma convulsão, de ter alguma dor... Saí correndo e fui até o quarto de uma amiga, para contar o que tinha feito. Lógico que ela pirou e tivemos que ligar para... ele!
O fim da noite foi num hospital, uma lavagem gástrica e muita apreensão. Da parte dele. Porque eu estava calma com ele ao meu lado, na minha loucura eu estava bem pois ele estava ali e de alguma forma as coisas iriam dar certo. Me recordo de estar com a minha aliança de noivado e fazer piada com os médicos por causa daquilo, que "queria morrer de aliança"...
Então de qualquer jeito acho que morri ali. Quem morreu foi a Naty que acreditava em contos de fadas, que achava que só se ama uma vez e que todos estavam fadados a ser felizes para sempre. De alguma forma eu fiquei mais cética, mais dura... Cresci alguns anos naquela noite. Ninguém merece o que eu fiz ali, hoje é claro que eu sei, mas naquela época eu não entendia que o mundo não pára porque estamos sofrendo... e que ninguém morre de amor. A gente acha que vai morrer, a gente tem certeza até, mas sobrevive.
Emagreci 5 quilos na semana que se seguiu a este fato. Voltamos e duramos mais de um ano depois disso. Mas isso é uma estória que contarei em outra ocasião...