Quase atropelada...

Thursday, September 18
De segunda a sexta-feira eu acordo pontualmente 07h45 com a Rita Lee cantando “Se eu me apaixonar, vê se não vai debochar da minha solidão...”. Procuro ainda com os olhos fechados o celular e o desligo. Soneca. Mais 5 minutos. Tem dias que é impossível levantar, principalmente em uma manhã fria de Curitiba. Arrasto-me ao chuveiro ainda dormindo e no piloto automático vou trabalhar.

Durante a semana, sempre chego no mesmo horário no Centro. Observo as mesmas pessoas chegando e saindo. E para ser franca, adoro isso. Esse silêncio de manhã, a pressa dos atrasados, o olhar dos desconhecidos nem tão desconhecidos assim. Há tanto para se observar. A falta de educação dos motoristas é um exemplo. Buzina, carro furando o sinal vermelho, gente colocando a cabeça pra fora e gritando, xingando. Nossa. Como pode alguém conseguir relaxar ante a uma situação dantesca como essa?

Quem mais sofre são os pedestres. Sinceramente, não sei qual o problema com os motoristas. Uma faixa de pedestres. Um carro. Um transeunte. Um cruzamento. Não há semáforo. O cidadão – parado na calçada – aguarda o melhor momento para atravessar. Os carros passam como raios em dias de tempestade.

Fui atravessar a rua. Quando o movimento diminuiu, olhei para os dois lados. Zelosa e com sono. Vendo apenas um carro, ao longe, resolvi me arriscar. Mal coloquei o meu pé na faixa, o carro, antes longínquo, aproxima-se. Ignora a minha existência e a da faixa e passa mais rápido que o Ayrton Senna.

Até acordei completamente. O carro pára. O motorista olha para trás, me vê transtornada, desce do carro, caminha estressadamente em minha direção.

- Escuta, você não olha para atravessar, não?!
- Eu? Aqui há uma faixa de pedestres... Está vendo? Se eu vi o seu carro, certamente você me viu.
- Eu estou atrasadíssimo e poderia ter te atropelado. Idiota!

Como assim? Quem é ele para me chamar de idiota 08h45? Incrédula respondi:

- Idiota é você seu babaca!

Fiz minha cara de TPM extreme. O motorista limitou-se a olhar para mim desdenhoso. Me deu as costas e voltou para o seu carro. Seu templo. Provavelmente, continuou seu caminho – como tantos outros motoristas – passando pelas faixas sem vê-las. Cruzando sinais vermelhos. Enfim, agredindo a todos com sua ignorância.

A rua acalmou-se e eu atravessei a rua. Curiosos vieram me perguntar o que havia acontecido, observaram, comentaram e voltaram às suas vidas. Muitos concordaram com o motorista... Alguns concordaram comigo:

- Os curitibanos dirigem mal.
- Ninguém respeita ninguém.

Eu que odeio falar de manhã, apenas sorri e concordei:

- É, é.

Vim trabalhar pensando na falta de cuidado existente entre os homens. Seria esta uma cena corriqueira? Se sim, se não... me fez pensar nisso por uns 20 minutos.