De segunda a sexta-feira eu acordo pontualmente 07h45 com a Rita Lee cantando “Se eu me apaixonar, vê se não vai debochar da minha solidão...”. Procuro ainda com os olhos fechados o celular e o desligo. Soneca. Mais 5 minutos. Tem dias que é impossível levantar, principalmente em uma manhã fria de Curitiba. Arrasto-me ao chuveiro ainda dormindo e no piloto automático vou trabalhar.
Durante a semana, sempre chego no mesmo horário no Centro. Observo as mesmas pessoas chegando e saindo. E para ser franca, adoro isso. Esse silêncio de manhã, a pressa dos atrasados, o olhar dos desconhecidos nem tão desconhecidos assim. Há tanto para se observar. A falta de educação dos motoristas é um exemplo. Buzina, carro furando o sinal vermelho, gente colocando a cabeça pra fora e gritando, xingando. Nossa. Como pode alguém conseguir relaxar ante a uma situação dantesca como essa?
Quem mais sofre são os pedestres. Sinceramente, não sei qual o problema com os motoristas. Uma faixa de pedestres. Um carro. Um transeunte. Um cruzamento. Não há semáforo. O cidadão – parado na calçada – aguarda o melhor momento para atravessar. Os carros passam como raios em dias de tempestade.
Fui atravessar a rua. Quando o movimento diminuiu, olhei para os dois lados. Zelosa e com sono. Vendo apenas um carro, ao longe, resolvi me arriscar. Mal coloquei o meu pé na faixa, o carro, antes longínquo, aproxima-se. Ignora a minha existência e a da faixa e passa mais rápido que o Ayrton Senna.
Até acordei completamente. O carro pára. O motorista olha para trás, me vê transtornada, desce do carro, caminha estressadamente em minha direção.
- Escuta, você não olha para atravessar, não?!
- Eu? Aqui há uma faixa de pedestres... Está vendo? Se eu vi o seu carro, certamente você me viu.
- Eu estou atrasadíssimo e poderia ter te atropelado. Idiota!
Como assim? Quem é ele para me chamar de idiota 08h45? Incrédula respondi:
- Idiota é você seu babaca!
Fiz minha cara de TPM extreme. O motorista limitou-se a olhar para mim desdenhoso. Me deu as costas e voltou para o seu carro. Seu templo. Provavelmente, continuou seu caminho – como tantos outros motoristas – passando pelas faixas sem vê-las. Cruzando sinais vermelhos. Enfim, agredindo a todos com sua ignorância.
A rua acalmou-se e eu atravessei a rua. Curiosos vieram me perguntar o que havia acontecido, observaram, comentaram e voltaram às suas vidas. Muitos concordaram com o motorista... Alguns concordaram comigo:
- Os curitibanos dirigem mal.
- Ninguém respeita ninguém.
Eu que odeio falar de manhã, apenas sorri e concordei:
- É, é.
Vim trabalhar pensando na falta de cuidado existente entre os homens. Seria esta uma cena corriqueira? Se sim, se não... me fez pensar nisso por uns 20 minutos.
Quase atropelada...
2008-09-18T12:31:00-03:00
Vanessa Gonçalves
Subscribe to:
Post Comments (Atom)